A freguesia do Milharado, pertence ao Concelho de Mafra, que é um dos de maior área do distrito de Lisboa, possui vários edifícios de muito interesse, mesmo que não contasse com o célebre Convento – um dos monumentos mais visitados nos arredores de Lisboa.

As igrejas dispersas pelo concelho, são um tanto rústicas e de modestas proporções; mas algumas com notáveis interiores com belos azulejos e magnífica talha, por exemplo, constituem sem dúvida um apreciável património, por vezes de considerável interesse.

Povoação antiquíssima, a vila de Mafra, tomada aos Mouros em 1147, e cujo primeiro foral data de 1189, apresenta dois agrupamentos: a “Vila Velha” que era o antigo burgo, e a “Vila Nova” que cresceu à volta do grandioso Convento.

A palavra Mafra, virá do árabe “Mahafra” que significa “cova”.

A vila foi doada por D. Sancho em 1183, ao mestre da Ordem de Calatrava, e passou finalmente para a posse dos Marqueses de Ponte de Lima, cujo solar se pode ainda ver ao lado da Igreja de Santo André.

Mas foram, sem dúvida, as obras do Convento, na primeira metade do Séc. XVIII, que vieram dar nova vida à povoação, pois durante 18 anos ali trabalharam alguns milhares de operários.

Depois disso, sempre a vida da povoação esteve mais ou menos ligada ao do grande Convento palácio, que com a sua grande tapada cerca de 20km de perímetro conheceu uma época de certa animação social durante o Séc. XIX, a qual findaria quando na vizinha Ericeira, se deu o embarque da família Real para o estrangeiro, depois dos acontecimentos que levaram à implantação da República.

Hoje é sobretudo o movimento turístico que, justificadamente, dá vida a Mafra.

O Concelho compreende além da nossa Freguesia, as freguesias de Alcainça, Azueira, Carvoeira, Cheleiros, Encarnação, Enxara do Bispo, Ericeira, Gradil, Igreja Nova, Mafra, Malveira, Santo Estevão das Galés, Santo Isidoro, Sobral da Abelheira, Venda do Pinheiro e Vila Franca do Rosário.

Freguesia de Mafra

O majestoso Convento de Mafra, um dos centros polarizadores da arte portuguesa, foi mandado construir por D. João V em cumprimento de um voto que fizera se a rainha sua esposa, D. Maria Ana de Áustria, desse um herdeiro ao trono.

Comprados os terrenos em 1713, submeteram-se à apreciação do rei vários projectos de arquitectos de renome, como Filipe Juvara e João Frederico Ludovice.

A primeira era italiano e o segundo conhecido em Portugal como o arquitecto de D. João V, era alemão de nascimento mas educado em Roma.

O plano aprovado foi o de Ludovice e a obra iniciou-se a 17 de Novembro de 1717.

A massa arquitectónica do convento, é pois por assim dizer uma mistura do barroco europeu, devidamente adaptado ao gosto português.

A imponente fachada, com 220m de comprimento, é ladeada por dois grandes torreões. Ao centro, a basílica, com grande escadaria de acesso, como que forma um corpo autónomo.

Com efeito, entre duas elegantes torres sineiras, a denunciar verdadeiro espírito barroso na alternância de andares côncavos e convexos sobrepostos até uma altura de 68m, eleva-se a frontaria do templo, de duas ordens de colunas, rematada por largo frontão onde se esculpe um baixo-relevo. Nos intercolúnios de cima, as estátuas de S. Francisco e S. Domingos; em baixo as de Santa Isabel da Hungria e Santa Clara.

No átrio ou galilé são notáveis os seus mármores brancos e negros como, em especial, pelas vultosas estátuas italianas.

Das pequenas galerias abrem-se perspectivas para os alçados laterais da igreja e para os braços do cruzeiro, cujos topos são fechados em semicírculos.

Do interior da igreja (sagrada em 1730) é de uma só nave, de proporções monumentais e rica de mármores de várias cores. A impressão geral, sob a alta abóbada de berço com penetrações, é de inegável grandeza e no cruzeiro, dominado pela arrojada cúpula, poderemos ainda melhor avaliar das qualidades espectaculares de toda esta severa arquitectura.

De cada lado da nave sucedem-se as capelas, magnificas pela policromia e abundância dos seus mármores e pela opulência das banquetas e lampadários de bronze. Do lado do Evangelho, a capela do Santo Cristo ostenta um retábulo esculpido do Calvário que reproduz um quadro de Solimena, seguem-se as capelas dos Bispos e do Rosário. Do lado da Epistola, a primeira é a capela das Virgens, em cujo retábulo se vêem Santa Isabel de Portugal, Santa Clara e Santa Isabel da Hungria, logo a seguir a capela dos Confessores e a dos Mártires.

A par destes retábulos e lunetas há que observar a opulenta colecção de estátuas dispostas nos grandes nichos, assinados por artistas italianos.

Os mármores utilizados na construção eram quase todos da região de Mafra e Sintra, mas os das esculturas são na sua maior parte italianos.

A capela-mor e os altares do cruzeiro harmonizam-se com o resto do templo, tanto na escala como na qualidade dos materiais empregados. Sobrepuja o artar-mor um grande crucifixo de jaspe (3m de altura), obra de José de Almeida. No topo da cabeceira, a pintura de Trevisani representando a Virgem e Santo António. As caixas dos órgãos são já da época de D. João VI (1807). No cruzeiro há outros quatro órgãos, recentemente restaurados, o que tudo forma um conjunto invulgar de tais instrumentos. Alguns dos seus maiores tubos alcançam 6m de altura. De notar, também, o magnifico lampadário.

De cada lado da capela-mor existe ainda uma capela, com várias esculturas. A capela do Santíssimo, no cruzeiro, distingue-se não só pelo rico e movimentado retábulo, mas sobretudo, pela excelente grande ferro com ornatos de bronze, executada por artistas de Antuérpia.

A grande sacristia conserva os seus arcazes, num total de 80 gavetas, com boa ferragem, e um pequeno altar com uma tela de Inácio de Oliveira Bernardes, que figura S. Francisco Recebendo os Estigmas. Ao lado, a Casa do Lavabo exibe, ao centro, uma bela mesa de mármore e quatro monumentais lavatórios.

No museu guardam-se imagem, jóias, pinturas, paramentos etc., que pertenceram ao convento e igualmente os modelos de barro e gesso de muitas obras que embelezam a igreja.

Digna de atenção, ainda o antigo hospital do convento, com as suas bem-alinhadas celas forradas de azulejos brancos com registos, e sóbrio mobiliário do tempo. Anexa, a antiga farmácia, com notável colecção de frascos antigos.

Quanto à Biblioteca, com os seus 88m de comprimento e 50 janelas, é uma grandiosa e bela sala, já em meados do Séc. XVIII utilizada para esse fim.

Dão-se hoje como ali existentes para cima de 30.000 volumes.

Em 1792, porém, os Franciscanos regressaram ao convento e por essa altura as estantes estavam terminadas mas não douradas, e assim se conservaram, numa cor que afinal se harmoniza com a sóbria arquitectura da sala.

Recentemente, foi instalado em dependência do rés-do-chão um Museu de Escultura Comparada, onde se reúnem numerosas moldagens em gesso de peças de escultura portuguesa e estrangeira.

Ligada ao grande convento, a tapada, com cerca de 20km de circuito, densa de arvoredo, na qual se dispõem numerosos locais aprazíveis, com jardines fontes, sem esquecer as belas espécies arbóreas e as lagoas ou represas de água. Local predilecto para caçadas, foi muito procurada pelo rei D. Carlos, que ali mandou fazer um pequeno chalé onde almoçava em dias de excursão venatória.

Alguns dados curiosos a respeito do convento:
O edifício cobre uma área de 40.000 m2.
A face poente mede 232m de comprimento.
As faces Norte e Sul medem 119m, e a face Nascente 172m.
A Bariliza ocupa uma área de 5.331 m2.
Os Torreões elevam-se a uma altura de 52m.
As torres elevam-se a uma altura de 69m.

O Zimbório até ao remate da cruz de bronze 64.68m.
O Jardim interior (do buxo) cobre uma área de 3.528m2.
O edifício tem:
           
                        4.185 Portas e janelas;
                        102 Escadas de pedra com 5.455 degraus;
                        29 Pátios.

A igreja tem:

                        11 Capelas;
                        45 Tribunas;
                        6 Órgãos;
                        18 Portas.

A Luz é recebida por 181 janelas.
As capelas tem 21 retábulos e quadros em mármore, 8 quadros a óleo e 40 estátuas de mármore de Carrara com 2.86m.
As torres do lado norte têm 56 sinos e as do lado sul 54.
Em 1729, trabalhavam na construção 50.000 operários.
O custo total ao terminar a obra foi de 48 milhões de cruzados.

Palácio dos Marqueses de Ponte de Lima

Em frente da Igreja de Santo André, o palácio é uma austera construção do Séc. XVII que conserva, nas suas linhas simples, o carácter da arquitectura da época. Os marqueses de Ponte de Lima eram, como já se disse os senhores de Mafra.

Freguesia do Milharado

Igreja de S. Miguel

Esta Igreja, sede de Paróquia desta freguesia, consoante a inscrição gravada no púlpito, terá sido edificada em 1609. A frontaria é voltada para poente.

No adro existe um sólido cruzeiro de pedra do Séc. XVII, e assenta num plinto quadrangular em cujas faces se vêm gravadas temas bíblicos da “Paixão”.

Enobrece a fachada da igreja, um portal manuelino, ladeado por colunelos, e cuja decoração é constituída por cachos de uvas, animais fantásticos e cestaria. A remata-lo um brasão com quatro cravos e uma chaga.

O interior, de uma só nave, é coberto por um tecto de masseira com caixotes pintados ao gosto seiscentista. Na capela-mor o retábulo de boa dimensão, é também do Séc. XVII (com colunas ainda com decoração renascentista) e as paredes são forradas de painéis de azulejos do Séc. XVIII.

O frontal do altar, bem como os dos altares colaterais, são de azulejos de tipo ponta de diamante, de muita boa qualidade.

No corpo da igreja do lado da Epístola, outro retábulo do Séc. XVII, desta vez com colunas torsas e com os característicos painéis de largos enrolamentos vegetais do Séc. XVII.

Em frente, outro pequeno altar.

O púlpito datado de 1609, é de mármore, de forma circular com balaústres, e assenta sobre uma coluna de mármore rósea.

O coro alto tem balustrada de tremidos, características da época, é do Sec. XVII também a bela pia de água benta, com relevos apreciáveis, bem como a fonte baptismal, de linhas simples.

Em dependências, alguns móveis de carvalho, um magnifico relógio inglês de caixa alta, marcado de “Ponn Scott”, e ricamente decorado a ouro com figuras chinesas.

Meia dúzia de cruzes de altar, de prata lavrada com motivos do Séc. XVII, e mais valiosa do que essas ali guardadas, uma imponente cruz alçada, igualmente de prata, formosa e pouco vulgar relíquia gótica.

Em capítulos de escultura, a igreja conserva alguns exemplares valiosos, entre eles uma imagem de Nossa Senhora, esculpida em pedra, e uma fonte de espaldar lavrada e aposta numa parede da sacristia.

Na parede exterior do lado sul, possui um relógio de sol de mostrador vertical, gravado em pedra de forma quadrada, e um medalhão com o desenho de uma flor de lótus(?) que se julga ser da época romana.


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